CIÚMES - o bicho verde

Desde os primórdios no início dos agrupamentos sociais os seres humanos sentiram ciúmes. E quanto mais tempo passava e mais as sociedades se especializavam e os agrupamentos humanos se tornavam evoluídos o ciúme se encontrava presente arrebatando os corações dos mais apaixonados e imputando os mais tórridos sentimentos de apego e disputa. Este sentimento sempre fez parte das características de personalidade das pessoas, uma mais outras menos, todos nós já experimentamos o que é ser ciumento e ter medo de “perder o ser amado”.
 O ciúme pode ser definido como um Sentimento complexo e de difícil compreensão, provocado pelo medo de perder a pessoa amada. Ele nos imputa o receio de que a pessoa amada se apegue a outra. Confunde-se por vezes com o despeito por ver alguém possuir um bem que é alvo do seu desejo, ato este chamado de inveja.
Temos uma passagem bastante conhecida que é representada pela estória de Otelo e Desdêmona na tragédia de Shakespeare. Otelo, o herói da tragédia shakespeariana, é mouro e veneziano. "Como veneziano, deve chefiar a frota; como mouro, não tem a permissão para pedir em casamento nenhuma veneziana. O guerreiro é considerado pelos habitantes da cidade como um igual, mas o amante é visto como um animal negro".
Shakespeare, melhor do que ninguém retratou a dor e o sofrimento do amor mal compreendido tendo como pano de fundo os ciúmes e vingança que podem afundar uma relação entre casais.
A passagem abaixo citada por Shakespeare traduz veementemente os sentimentos fervorosos do personagem Otelo:

“Oh! Cuidado com o ciúme, meu senhor! Ele é um monstro de olhos verdes, que produz o alimento do qual se nutre! Esse chifrudo vive na alegre embriaguez de quem, tendo certeza de sua adversidade, não ama aquela que o trai; mas oh! que malditos minutos ele conta, esse que ama, mas duvida, mas ama perdidamente.”

O ciúme na vida da gente

O ciúme é um sentimento bastante comum, pois quando estamos em um relacionamento profundo o amor desperta inúmeros outros sentimentos compulsórios e o ciúme é um deles. Quando você está apaixonado ou em estado profundo de amor com seu parceiro o que se desperta muito acentuadamente é o apego e o censo de cuidado. Estar com o ser amado sempre representa quase que o mesmo que se preocupar com os cuidados quando ele não está perto. Por isso sentimos ciúmes. 
Pois temos medo de perder ou de que a pessoa se apegue ou seja cuidada por outra. Ter ciúmes demonstra por si só um sentimento de exclusividade. Não queremos dividir, queremos o olhar, os sentimentos do outro e o seu cuidado sobre a gente e vice-versa. Há quem diga que pessoas ciumentas são imaturas, inseguras, mas aí paramos para refletir nas situações de vida e nos perguntamos: quem de nós já não foi um pouco ciumento, portanto um pouco imaturo, um pouco inseguro, um pouco exclusivista.  
Já fomos ciumentos de nossos pais, de nossos irmãos, de nossos melhores amigos, de nossos parceiros, até mesmo de nossos colegas de trabalho. Tivemos variadas experiencias ao longo da vida de não queremos dividir nossas pessoas mais próximas, mais queridas e, portanto, mais relevantes em nossa vida. Mas temos que nos preocupar quando ser ciumento ultrapassa as barreiras do equilíbrio e da sanidade na convivência com os outros.

Como enfrentar o ciúme

Entendemos que o ciúme é um sentimento natural que permeia os variados relacionamentos humanos em nossa vida. Ele é dito “normal” quando objetiva cuidar das pessoas que nos são mais queridas e estamos dispostos a proteger e manter em nossas vidas. Essas pessoas são fiéis depositários de nosso amor, sonhos, necessidades, expectativas, intenções e até mesmo propósitos de vida.

Mas o ciúme também possui uma variante “patológica” nos relacionamentos. Aqui se encontra a face verdadeiramente doentia deste sentimento e que solapa todas as expressões boas e verdadeiras dos afetos e emoções positivas. Nestas manifestações de ciúmes doentio estão presentes a desconfiança, o sentimento de posse pelo outro, a baixa autoestima do ciumento chegando até ao ressentimento profundo e a obsessão. Esses comportamentos são considerados desajustes de personalidade e as pessoas envolvidas nestas situações devem rapidamente procurar ajuda especializada.

Podemos então entender que para nos relacionarmos com indivíduos ciumentos há que se ter paciência e ir buscando ajustamentos ao longo desta relação, adaptações que servem para ambos os lados. Contudo, se uma das partes for um ciumento patológico indique para ele procurar ajuda profissional e se desligue dessa relação se for realmente o melhor para você próprio.

“O ciúme é muitas vezes uma inquieta necessidade de tirania aplicada às coisas do amor .” 
(Marcel Proust)

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